quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Osvaldo tinha 50 anos e era um cara médio. Neide, a esposa e dona de casa, Maria Francisca, a filha mais velha (em homenagem à mãe e à sogra), João Octávio, o do meio, e Junior, o mais novo, eram sua família. Família feliz. Não tinham cachorro. A casa era deles. Financiada em 30 anos.
Graças a seu emprego com salário médio no Banco do Brasil ostentava uma invejável posição de classe média. A cidade não era nem pequena, nem grande. Média. E tinha tudo o que seu status lhe permitia: a cada quinze dias saiam pra comer pizza, aos fins de semana tomavam sorvete na pracinha depois da missa, nos aniversários tinha sempre coca e salgadinho. O bolo quem fazia era a avó, Dona Maria. Comiam estrogonofe pra comemorar. Jantavam antes do Jornal Nacional.
Osvaldo era caseiro. Nunca jogou bola. De casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Valorizava o lar e a família. Também nunca teve caso com Dona Márcia, do banco. Respeitava Dona Neide. Amava a família que construíra. Não fumava, nem bebia.
Mas era um cara médio. Médio demais. Parecia que tudo ia bem, mas Osvaldo não se contentava com a média. Queria poder dar mais à família. Queria poder ir a Praia Grande uma vez por ano, queria um Gol zero, queria um cachorro.
Só tinha uma maneira de poder dar tudo isso à sua família. Bom, duas. Mas uma não era real. Na média, nunca acontecia.
Planejou tudo direitinho. Fez um consórcio daquele Gol, seguro de vida no Banco, e adiantou umas parcelas da casa com o dinheiro da poupança. Só não comprou o cachorro.
Amava tanto sua família que se matou. No mesmo dia em que Neide ganhou sozinha na loto.

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